sábado, 19 de maio de 2012

Dia das mães conturbado


O texto abaixo , eu o escrevi  no dia das mães, no  quarto do hospital, enquanto vigiava o sono de minha mãe hospitalizada vítima de um sério problema vascular nas pernas.

"A dor alheia desperta em nós compaixão e nos coloca diante da fragilidade da vida"


O dia está amanhecendo. Tudo parece silencioso a esta hora da manhã. A não ser o ecoar de passos que de vez em quando passa pelo corredor. Depois de uma noite insone, sentindo necessidade de extravasar sentimentos, pego caneta e papel e começo a escrever.
Daqui do meu leito observo a figura frágil de minha mãe no leito ao lado do meu. Ela agora dorme profundamente.
Demorou a pegar no sono esta noite. Estava muito agitada.
Eu havia dormido poucas horas, quando fui despertada abruptamente como se alguém me tocasse. Ela estava sentada na cama assustada e tentando se levantar. Não reconhecia o lugar onde estava e perguntava insistentemente como veio parar aqui neste hospital que ela identificava como uma casa estranha. Disse que teve muito medo pensando estar sózinha naquele lugar desconhecido.
Fiquei ali ao pé da cama procurando tranquilizá-la. Chamei o serviço de enfermagem que acorreu assim que pode.
Ontem a noite uma sobrinha veio visitá-la. Uma pessoa bondosa, compreensiva e paciente. Ficou mais de uma hora sentada a seu lado escutando atenta e pacientemente suas histórias sem nexo.
Foi o momento em que pude sentar e descansar um pouco. Tinha ficado horas em pé ao lado da cama para evitar que ela arrancasse indevidamente a agulha que injeta o soro.
Uma trombose a levou ao hospital. Desde que saiu de sua rotina diária, sua confusão mental piorou.
Está assim, pior que uma criança. Porque uma criança progride no aprendizado e compreensão.E ela, ao contrário, está regredindo.
Tive trabalho para mantê-la no leito ontem. Quando decide que quer descer da cama, fica difícil convencê-la do contrário.É uma verdadeira luta em todos os sentidos.
Coça desesperadamente a perna e o braço até feri-los. O médico passou ontem à tarde e foi categórico: se não conseguirmos contê-la ele será forçado a usar seus próprios métodos, ou seja, amarrar seus braços na cama.
Eu não consigo imaginar minha mãe amarrada na cama como uma pessoa sem domínio de suas faculdades mentais. Isso só a deixaria mais nervosa ainda e poderia acarretar um trauma maior.
Decidi que não iria deixar que fosse preciso adotar uma atitude agressiva assim. Fiquei ali do seu lado tentando acalmá-la, evitando que mexesse na agulha implantada no seu braço.Um lenço de papel bem macio eu usei para “coçar” as suas lesões. Fiquei ali um tempão “alisando” suavemente seu braço até que sua ansiedade foi passando.
Em determinado momento convidei-a a juntas rezarmos o terço.
Ficamos ali as duas de olhos fechados a desfiar as ave marias.Enquanto rezávamos eu pensava nas muitas vezes que ela também deve ter rezado a meu lado quando pequena, pedindo a Deus por mim.
Rezar a acalmou e fez com que se esquecesse do braço por alguns minutos. Aos poucos foi-se aquietando e adormeceu por um breve período.
Hoje é o dia das mães e o presente mais significativo nesse momento difícil, com certeza é a minha presença, acompanhada de muito afeto, paciência e compreensão.
Com certeza, Maria Ssma., a mãe das mães ao nosso lado se encontra. Nos anima, protege e fortalece.
Considero esta fase da vida muito triste e ingrata.A vida é uma verdadeira caixinha de surpresas.
O que nos espera amanhã? Seremos donos de nossas vontades? Teremos domínio de nosso espaço? E nossas faculdades mentais, como estará?
Hoje lépidas, ágeis no pensar e no agir; no comandar e no caminhar... Amanhã... só o tempo o dirá.
Somente Deus tem o fio que conduz nosso destino. O futuro a Deus pertence.
Olhando para minha mãe no leito, a velhice me entristece e me amedronta, porque a dor alheia desperta em nós compaixão. E é olhando para minha mãe que eu descubro a totalidade do meu ser. Descubro também minha fragilidade e reflito sobre a efemeridade da vida.
Não tenho medo da velhice propriamente dita. Porque envelhecer é consequência natural da vida do ser humano. Podemos retardar nossa velhice, mas nunca interrompê-la ou evitá-la. Hora ou outra ela chega.
Tenho medo das consequências naturais da idade. Medo da limitação que a velhice traz, medo do amanhã quando meu corpo já não responderá aos comandos de hoje.Medo da depêndencia física, vítima de uma saúde debilitada. Medo da solidão...do abandono...da dor.
Neste domingo de “Dia das Mães”, mais do que nunca elevo meu pensamento a Deus e agradeço a oportunidade de poder estar a seu lado nesse trecho de sua caminhada. Que eu redobre a ternura para que a solidão não a possa alcançar.
Acompanha,Senhor, minha mãe nesse momento difícil e se for de sua vontade, poupe-lhe maiores sofrimentos.
Abençoa Senhor minha mãe.
Abençoa também todas as mães!

2 comentários:

  1. Querida Edite! O seu relato sensível me comoveu. Quando estamos com uma pessoa querida enferma, nos sentimos impotentes e precisamos mesmo de muita fé e confiança em Deus para prosseguirmos com esperança e fortaleza. Mas você está sendo iluminada pela presença de Jesus, pois mesmo nos momentos de mais aflição, teve a inspiração de buscar o conforto em Deus e permanecer serena, consolando e ajudando a sua mãe. Saiba que seu amor filial é o que sua mãe mais precisa agora e sei que ela está feliz por tê-la ao seu lado.
    Lembrarei de vocês em minhas orações. Sei como é isso, pois vivemos situação de grande sofrimento, quando meu pai adoeceu. Mas Deus nos dá a força necessária.
    Que Nossa Senhora estenda seu manto protetor sobre sua mãe e toda a sua família e que Deus abençoe vocês!
    Um grande abraço, com muito carinho,
    Angela

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    1. Obrigada pelo carinho Angela.Nesses momentos é muito reconfortante contar com o apoio de pessoas amigas e compreensivas.Abcs

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