domingo, 13 de outubro de 2013

Caridade/ Doação




Fala-se muito sobre doação. Eu mesma chamo assim o ato praticado por todos nós, trabalhadores da Casa do Richard, às quintas-feiras. Nessa última semana precisei relembrar os oito níveis da “caridade”, ou as maneiras de sermos generosos com o próximo, descritos por Maimônides (o grande médico e sábio) num dos textos da *Mishná.

No oitavo e mais baixo nível de generosidade com o próximo, um homem compra de má vontade um casaco para um outro que treme de frio e lhe pede ajuda. Ele entrega o presente diante de testemunhas e espera receber agradecimento.
No sétimo nível, um homem faz o mesmo, sem esperar que lhe peçam ajuda.
No sexto nível, ele faz o mesmo, de coração aberto, sem esperar que lhe peçam ajuda.
No quinto  nível, um homem dá um casaco que tinha comprado, de bom grado, mas o faz sem que ninguém saiba.
No quarto nível, um homem, de bom grado e sem testemunhas, dá o seu próprio casaco a um outro.
No terceiro nível, um homem, de bom grado, dá o seu próprio casaco a um outro que não sabe quem lhe ofertou tal presente. Mas aquele que deu conhece a pessoa que lhe ficou devedora.
No segundo nível ele dá o seu casaco, de bom grado, sem ter ideia de quem o recebeu. Mas o homem que recebeu o presente sabe quem merece seu agradecimento.
Finalmente, no primeiro e mais puro dos níveis, um homem, de bom grado, dá o seu próprio casaco sem saber quem vai recebê-lo e aquele que o recebe não sabe quem ofertou. Então, o ato de dar torna-se uma expressão natural da bondade em cada um e acontece de maneira tão simples quanto as flores oferecendo seu perfume.

Aqui existe uma situação muito especial. Imaginem que todas as pessoas fossem generosas com os que estão ao seu redor da maneira como fez o primeiro homem: de má vontade, um casaco comprado, na presença de testemunhas, a alguém que precisa e pediu ajuda. Se todos nós agíssemos assim, haveria maior ou menor sofrimento no mundo? Tempo para refletir...

Menor, claro! É verdade. Algumas coisas tem tamanha bondade em si que merecem ser feitas da maneira que for possível.

Sem dúvida, existem formas de dar que diminuem o outro, roubando-lhe a dignidade e o amor-próprio. Podemos aprender como dar sem tirar nada e com frequência aprendemos enquanto fazemos. E ainda creio que é melhor abençoar “mal” (num degrau mais baixo) a vida do que não abençoá-la nunca! 
Só mais um lembrete: doação não tem nada a ver com descarte. Quando for doar qualquer coisa para outra pessoa: livros, revistas, roupas, objetos de higiene e limpeza, bijuteria, cobertores, comida, antes faça uma pequena reflexão: isso que eu estou doando pode ser verdadeiramente reaproveitado? Gostaria de receber de outra pessoa isso que estou doando? Não repasse algo pra frente porque você quer se livrar, mas não tem coragem, porque outra pessoa “pobrinha” poderia aproveitar. Se não dá para aproveitar, é lixo.


*MISHNÁ: A Mishná, também conhecida como Mixná (em hebraico משנה, "repetição", do verbo שנה, ''shanah, "estudar e revisar") é uma das principais obras do judaísmo rabínico, e a primeira grande redação na forma escrita da tradição oral judaica, chamada a Torá Oral.(Fonte: Wikipédia)
Postado por Regina Rozenbaum 

3 comentários:

  1. Obrigada pela lembrança. Vou já já no seu blog me inteirar da doce lembrança. Bjs

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  2. Fui descobrir quem foi o médico e sábio autor do texto e bastou-me clicar aqui e clicar ali http://pt.wikipedia.org/wiki/Maim%C3%B4nides

    O texto 8 se refere a doação ou ajuda individual e concordo que não preciamos e nem devemos alardear. Porém qdo vamos fazer doação em grande escala e precisamos juntar um grupo de pessoas, então se faz necessário maior abertura para motivar as pessoas. Digamos que eu me ofereça pra enviar uma caixa com doação para a Casa de Richard. Ao receber a caixa, vc poderá comentar ou até mesmo postar no blog que uma pessoa de muito longe mandou doações etc. etc. e isso vc o fará com o objetivo de motivar outras pessoas a fazerem o mesmo... seja lá enviando mais caixas para a Casa de Richard ou criando em sua cidade o mesmo programa. -- Aliás por que Casa de Richard e não Casa de Ricardo? curiostié seulement...

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  3. Eu apenas republiquei o texto pq achei bem interessante e reflexivo.
    Mas vc tem razão. Tudo depende do projeto ao qual nos engajamos. Mas o texto parece se referir a uma doação individual.Sendo assim e de muito bom senso ponderar sobre a forma que vamos nos manifestar.
    "Faça de sua doação um gesto tão simples, como flores oferecendo seu perfume' ( final do texto)
    E posso citar ainda: Que sua mão esquerda não saiba o que fez a sua direita"
    Abcs

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