Que máscara você usa?
Carnaval, a festa pagã definida pelo calendário cristão
Uma festa onde tudo pode acontecer. Apesar de ser pagã, a data do Carnaval é definida de acordo com o calendário gregoriano, inventado pela Igreja Católica no século XVI. São exatamente sete domingos antes da maior comemoração cristã: a Páscoa. A confusão entre cristianismo e paganismo não é de hoje, mas atualmente existem diversas alternativas para celebrar o Carnaval, uma das maiores festividades nacionais.
No livro “Carnaval brasileiro” (Brasiliense: 1992), da antropóloga Maria Isaura Pereira de Queiroz, muito antes do cristianismo, o Carnaval era chamado de “Entrudo”, em que comemorava a entrada da primavera. Segundo ela, a festa foi incorporada por um tempo às práticas cristãs e passou a ser comemorada a partir do sábado anterior à quarta-feira de Cinzas. O objetivo era comer e festejar tanto quanto fosse possível, pois a Igreja entraria na Quaresma, tempo de penitência, reclusão e silêncio interior.
Das práticas rituais de tribos indígenas que davam boas vindas à primavera e celebravam a fertilidade, o Carnaval surgiu pelo cristianismo durante a propagação da Igreja pela Península Ibérica. Em Portugal, país de origem da data festiva, as comemorações passaram a ter outros significados. Já não eram mais a primavera ou a fertilidade, mas o contraste entre virtude e vício, vida e morte, Quaresma e Entrudo. Máscaras e fantasias eram utilizadas para representar cada personagem.
O Carnaval sempre foi marcado por contrastes, inclusive os sociais. “A rapidez com que a festa foi adotada pelos cristãos demonstrava a existência de um desejo profundo do povo de revirar a situação de dominação existente, substituindo-a por outra”, afirma Maria Isaura.
De lá para cá, o Carnaval sofreu diversas, grandes e profundas transformações sociais. De rural passou a ser urbano. Deixou de ser elitista e passou a incorporar camadas menos favorecidas. Aos poucos, foi perdendo suas características em Portugal e ganhou força no Brasil, sua colônia. A partir de 1930, as escolas de samba se desenvolveram no país e o Carnaval acabou incorporado à cultura nacional, como sendo uma tradicional festa brasileira.
Data comercial
Há muito tempo o Carnaval deixou de ser apenas um momento para as brincadeiras. Maria Isaura afirma que o Carnaval virou símbolo comercial. “A comercialização do Carnaval tornou a festa uma vitrine de vaidades, uma feira em que tudo se vende, são produtos da sociedade de consumo selvagem que domina o Brasil”.
Desde a década de 1970, empresários e agentes hoteleiros que trabalham em cidades turísticas iniciaram um movimento para determinar uma data fixa para a folia carnavalesca, sob a alegação de que a festa móvel traz prejuízos econômicos ao país. “Uma quantidade de interesses econômicos estão ligados à realização viciosa da festa”, afirma a antropóloga.
Apesar de utilizar o calendário cristão, o arcebispo de Londrina, dom Orlando Brandes faz questão de ressaltar que a festa não faz parte do cristianismo. “O Carnaval não é uma festa religiosa, pelo contrário, é uma festa pagã”, destaca.
Ele explica também a importância dada ao Carnaval pela visão comercial. “Os comerciantes querem desvincular o Carnaval da Quaresma porque ele ocorre em fevereiro, que é temporada de verão e as pessoas entram em clima de Quaresma e abandonam as praias. Este vínculo entre fim do Carnaval e início da Quaresma é uma questão histórica”, aponta dom Orlando.
Inversão de normas
A festa carnavalesca permite ultrapassar os limites da conveniência, pois há uma inversão de normas. Ou seja, tudo o que é proibido cotidianamente torna-se liberado. “No Carnaval, é preciso tomar cuidado com Aids, alcoolismo, acidentes, infidelidade conjugal, gravidez indesejada, falência de casamentos e fracassos familiares. Muitas pessoas perdem o bom senso, fazem algazarra, barulho e até agridem”, alerta o arcebispo.
Testemunho de vida é o que os cristãos devem fazer, na opinião de dom Orlando, durante os dias de Carnaval. “É preciso muito cuidado, discernimento e bom senso.” Segundo ele, festejar de uma forma cristã é algo recente. “As pastorais, os movimentos eclesiais, as novas comunidades e as paróquias se mobilizaram para realizar o tipo de carnaval cristão”, observa.
Alegria cristã, retiros, estudos, encontros, adoração são algumas das alternativas sugeridas pelo arcebispo. “Oferecer oportunidades de retiros ou reforçar a adoração reparadora dos pecados cometidos no Carnaval civil. Cada diocese realiza o Carnaval cristão ao seu modo”, sugere. Reservar dias de férias, visitar parentes realizar viagens culturais, aproveitar o tempo para leituras, retiros, adorações, vigílias ou outras experiências espirituais são outras sugestão de dom Orlando.
Fonte: Comunidade Imaculada
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