O texto abaixo , eu o escrevi no dia das mães, no quarto do hospital, enquanto vigiava o sono de minha mãe hospitalizada vítima de um sério problema vascular nas pernas.
"A dor alheia desperta em nós compaixão e nos coloca diante da fragilidade da vida"
O dia
está amanhecendo. Tudo parece silencioso a esta hora da manhã. A
não ser o ecoar de passos que de vez em quando passa pelo corredor.
Depois de uma noite insone, sentindo necessidade de extravasar
sentimentos, pego caneta e papel e começo a escrever.
Daqui do
meu leito observo a figura frágil de minha mãe no leito ao lado do
meu. Ela agora dorme profundamente.
Demorou a
pegar no sono esta noite. Estava muito agitada.
Eu havia
dormido poucas horas, quando fui despertada abruptamente como se
alguém me tocasse. Ela estava sentada na cama assustada e tentando
se levantar. Não reconhecia o lugar onde estava e perguntava
insistentemente como veio parar aqui neste hospital que ela
identificava como uma casa estranha. Disse que teve muito medo
pensando estar sózinha naquele lugar desconhecido.
Fiquei
ali ao pé da cama procurando tranquilizá-la. Chamei o serviço de
enfermagem que acorreu assim que pode.
Ontem a
noite uma sobrinha veio visitá-la. Uma pessoa bondosa, compreensiva
e paciente. Ficou mais de uma hora sentada a seu lado escutando
atenta e pacientemente suas histórias sem nexo.
Foi o
momento em que pude sentar e descansar um pouco. Tinha ficado horas
em pé ao lado da cama para evitar que ela arrancasse indevidamente a
agulha que injeta o soro.
Uma
trombose a levou ao hospital. Desde que saiu de sua rotina diária,
sua confusão mental piorou.
Está
assim, pior que uma criança. Porque uma criança progride no
aprendizado e compreensão.E ela, ao contrário, está regredindo.
Tive
trabalho para mantê-la no leito ontem. Quando decide que quer descer
da cama, fica difícil convencê-la do contrário.É uma verdadeira
luta em todos os sentidos.
Coça
desesperadamente a perna e o braço até feri-los. O médico passou
ontem à tarde e foi categórico: se não conseguirmos contê-la ele
será forçado a usar seus próprios métodos, ou seja, amarrar seus
braços na cama.
Eu não
consigo imaginar minha mãe amarrada na cama como uma pessoa sem
domínio de suas faculdades mentais. Isso só a deixaria mais
nervosa ainda e poderia acarretar um trauma maior.
Decidi
que não iria deixar que fosse preciso adotar uma atitude agressiva
assim. Fiquei ali do seu lado tentando acalmá-la, evitando que
mexesse na agulha implantada no seu braço.Um lenço de papel bem
macio eu usei para “coçar” as suas lesões. Fiquei ali um tempão
“alisando” suavemente seu braço até que sua ansiedade foi
passando.
Em
determinado momento convidei-a a juntas rezarmos o terço.
Ficamos
ali as duas de olhos fechados a desfiar as ave marias.Enquanto
rezávamos eu pensava nas muitas vezes que ela também deve ter
rezado a meu lado quando pequena, pedindo a Deus por mim.
Rezar a
acalmou e fez com que se esquecesse do braço por alguns minutos. Aos
poucos foi-se aquietando e adormeceu por um breve período.
Hoje é o
dia das mães e o presente mais significativo nesse momento difícil,
com certeza é a minha presença, acompanhada de muito afeto,
paciência e compreensão.
Com
certeza, Maria Ssma., a mãe das mães ao nosso lado se encontra. Nos
anima, protege e fortalece.
Considero
esta fase da vida muito triste e ingrata.A vida é uma verdadeira
caixinha de surpresas.
O que nos
espera amanhã? Seremos donos de nossas vontades? Teremos domínio de
nosso espaço? E nossas faculdades mentais, como estará?
Hoje
lépidas, ágeis no pensar e no agir; no comandar e no caminhar...
Amanhã... só o tempo o dirá.
Somente
Deus tem o fio que conduz nosso destino. O futuro a Deus pertence.
Olhando
para minha mãe no leito, a velhice me entristece e me amedronta,
porque a dor alheia desperta em nós compaixão. E é olhando para
minha mãe que eu descubro a totalidade do meu ser. Descubro também
minha fragilidade e reflito sobre a efemeridade da vida.
Não
tenho medo da velhice propriamente dita. Porque envelhecer é
consequência natural da vida do ser humano. Podemos retardar nossa
velhice, mas nunca interrompê-la ou evitá-la. Hora ou outra ela
chega.
Tenho
medo das consequências naturais da idade. Medo da limitação que a
velhice traz, medo do amanhã quando meu corpo já não responderá
aos comandos de hoje.Medo da depêndencia física, vítima de uma
saúde debilitada. Medo da solidão...do abandono...da dor.
Neste
domingo de “Dia das Mães”, mais do que nunca elevo meu
pensamento a Deus e agradeço a oportunidade de poder estar a seu
lado nesse trecho de sua caminhada. Que eu redobre a ternura para
que a solidão não a possa alcançar.
Acompanha,Senhor,
minha mãe nesse momento difícil e se for de sua vontade, poupe-lhe
maiores sofrimentos.
Abençoa
Senhor minha mãe.
Abençoa
também todas as mães!
Querida Edite! O seu relato sensível me comoveu. Quando estamos com uma pessoa querida enferma, nos sentimos impotentes e precisamos mesmo de muita fé e confiança em Deus para prosseguirmos com esperança e fortaleza. Mas você está sendo iluminada pela presença de Jesus, pois mesmo nos momentos de mais aflição, teve a inspiração de buscar o conforto em Deus e permanecer serena, consolando e ajudando a sua mãe. Saiba que seu amor filial é o que sua mãe mais precisa agora e sei que ela está feliz por tê-la ao seu lado.
ResponderExcluirLembrarei de vocês em minhas orações. Sei como é isso, pois vivemos situação de grande sofrimento, quando meu pai adoeceu. Mas Deus nos dá a força necessária.
Que Nossa Senhora estenda seu manto protetor sobre sua mãe e toda a sua família e que Deus abençoe vocês!
Um grande abraço, com muito carinho,
Angela
Obrigada pelo carinho Angela.Nesses momentos é muito reconfortante contar com o apoio de pessoas amigas e compreensivas.Abcs
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